quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Algumas considerações sobre as análises de água

Os resultados apresentados aqui fazem parte do projeto “Avaliação da qualidade microbiológica das águas superficiais e subterrâneas nos municípios do leste fluminense”, realizado na Faculdade de Formação de Professores da UERJ, que se localiza em São Gonçalo e coordenado pelo prof. Fábio Vieira de Araujo.
Atualmente, além de mim, a equipe é composta de mais uma técnica, uma bióloga e sete alunos de Graduação do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, todos recebendo bolsas em diversas modalidades existentes na UERJ. Deste projeto, sairão algumas monografias de conclusão de curso dos alunos envolvidos.
Dentro deste projeto procuramos avaliar a qualidade das águas litorâneas, de rios e de lençóis freáticos nos municípios que compõem o leste fluminense, com ênfase em São Gonçalo e Niterói. Para tal, já realizamos diversas coletas em águas de poços artesanais de residências localizadas nos bairros de Boaçu, Engenho Pequeno, Jardim Catarina, Patronato e Itaóca em São Gonçalo; em Itaipuaçú, Maricá e estamos começando a coletar em residências de Itacoatiara, Niterói. Em relação aos rios, fizemos algumas coletas dentro da APA do Engenho Pequeno e nos principais rios de São Gonçalo (Brandoa, Guaxindiba, Marimbondo, Alcântara, Imboaçu e .
            Em relação as águas litorâneas, fizemos três anos de coletas mensais em São Gonçalo, em 5 praias localizadas na Ilha de Itaóca e na praia das Pedrinhas (as margens da Rodovia Niterói – Manilha, próxima ao Shopping São Gonçalo) e três anos de coleta mensais também em Niterói. Neste município são 13 as praias amostradas : Gragoatá, Boa Viagem, Flechas, Icaraí, São Francisco, Charitas, Jurujuba, Adão e Eva (estas dentro da Baia de Guanabara) e Camboinhas, Piratininga, Prainha em Piratininga, Itaipu e Itacoatiara (oceânicas). Os três anos de coleta nestas águas devem-se ao fato de tentarmos construir um histórico da qualidade de cada praia, pois o resultado de uma única coleta não é conclusivo, visto que a qualidade de uma água pode variar influenciada por diversos fatores ambientais, como chuva, incidência solar, e até mesmo de acordo com a maré. Dentro destes três anos de coleta, por mais que ocorram variações ambientais, pegamos os mais diversos tipos de situação: verão chuvoso, verão seco, inverno chuvoso, inverno seco. Desta forma, sabemos como se comporta a qualidade de uma praia nas mais diversas situações.
            Neste projeto, fazemos uso de três indicadores microbianos para avaliar a qualidade destas águas; os coliformes totais e termotolerantes (atual nome para os coliformes fecais), que indicam uma poluição fecal recente e cuja presença no ambiente indica a possibilidade da presença de um microrganismo patogênico oriundo de fezes de animais de sangue quente; e a contagem de bactérias heterotróficas totais, das quais fazem parte além das bactérias provenientes do esgoto, aquelas naturais do ambiente amostrado. Um aumento na contagem destas bactérias indica um aporte de matéria orgânica no ambiente, não necessariamente de origem fecal, como por exemplo, o despejo de uma fábrica de alimentos.
            Além destes parâmetros que são analisados em laboratório, utilizando metodologia padrão também utilizada por órgãos de fiscalização ambiental (INEA, por exemplo), parâmetros ambientais como salinidade, temperatura da água, pH e oxigênio dissolvido; também utilizados para avaliar a qualidade de um corpo dágua, são mensurados “in situ” no momento da coleta, com o uso de uma sonda multiparâmetros.
            Estamos neste momento, iniciando uma nova etapa, onde estaremos identificando algumas das bactérias que isolamos com mais freqüência nestas praias. Além disto, estaremos verificando o perfil de resistência destas bactérias frente a diferentes antibióticos.
            Várias são as doenças causadas por microrganismos veiculados pela água. Em sua maioria elas causam quadros de gastroenterite, desde os mais brandos até os mais graves. Segundo a Organização Mundial de Saúde, estas doenças são a maior causa de mortalidade no mundo. A principal preocupação refere-se principalmente as águas para consumo humano (potabilidade). Em relação às águas utilizadas para contato primário (banho), as principais doenças seriam infecções em olhos, ouvidos e na pele. Quanto menor o contato com a água, menor a probabilidade de contrair alguma doença. Andar sobre a areia molhada seria uma probabilidade menor em relação ao banho. Já, permanecer sentado ou deitado sobre esta areia poderia aumentar os riscos, pois a areia pode acabar concentrando vários destes microrganismos presentes na água.
            Os resultados obtidos são avaliados sob os padrões vigentes. No caso das águas de contato primário, é a Resolução CONAMA 274 de 2000. Esta classifica como própria águas que apresentem contagem abaixo de 1000 coliformes termotolerantes (CT)/100mL e imprópria com contagens acima destes valores. Esta mesma Resolução porém, requer um número mínimo de coletas no local e relata que não mais de 20% das amostras coletadas ultrapassem este valor. Desta forma, nas coletas realizadas em São Gonçalo, as praias de São João e São Mateus em Itaóca, apesar de apresentarem valores médios abaixo deste padrão e Pedrinhas, com valores médios acima deste padrão, apresentaram respectivamente 22, 25 e 69% das coletas com valores acima de 1000 CT/100 mL; sendo classificadas como impróprias ao banho. As praias da Luz e Caieras com 19% e da Beira com 14%, seriam classificadas como próprias.
            Em Niterói, as praias de Flechas e São Francisco (todas dentro da Baia de Guanabara), apesar de apresentarem valores médios abaixo de 1000 CT/100mL, estariam impróprias com 23, 26 e respectivamente de suas contagens com valores acima do padrão. Apesar de na totalidade de suas amostras apresentarem valores que as classificam como próprias, em algumas coletas, as demais praias inseridas na Baia de Guanabara apresentaram também contagens acima dos valores máximos permitidos. Dentre as praias oceânicas a situação é bem melhor. Prainha em Piratininga e Itaipu, apresentaram respectivamente valores acima do padrão em apenas 1 e 3 das 36 coletas realizadas; mas no geral os valores foram baixos. As demais praias (Piratininga, Camboinhas e Itacoatiara) sempre apresentaram valores abaixo do máximo permitido. Destas, os melhores valores médios foram encontrados em Itacoatiara, Piratininga, Camboinhas, Prainha e Itaipu, nesta ordem. Os maiores valores encontrados em Itaipu, devem-se provavelmente a proximidade à saída da lagoa.
            A obtenção de um histórico de grande prazo da qualidade destas praias nos permite sugerir uma proposta de classificação mais real do que apenas a utilizada comumente, própria e imprópria; pois algumas praias circulam entre estas classificações dependendo das condições ambientais. Esta proposta consiste em três classes de qualidade:
1-     Praias que sempre se apresentam com condições de banho, independente das condições ambientais (em verde);
2-      Praias que sempre se apresentam sem condições de banho, independente das condições ambientais (em vermelho);
3-     Praias que apresentam condições de banho apenas em momentos de condições ambientais favoráveis (em amarelo).

            Vale ressaltar que os resultados são obtidos pelo menos 48h após a coleta das águas, e que chegariam ao público através da mídia escrita ou falada pelo menos 24h após a obtenção destes, ou seja, 72h após as coleta. Principalmente nestes locais que apresentam influência das condições ambientais, resultados dados como próprios, poderiam estar sendo divulgados após uma forte chuva por exemplo; ocasionando a entrada de águas pluviais contaminadas e tornando estes locais impróprios ao banho no momento de divulgação pela mídia daquele primeiro resultado.

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